Verso “SVB 6º REGE / ALPHONSO / CITIANDO O / EXércitº DE CASTelª / Que GOVERNAVA / O DVQue DE USUNA / A PRAÇA DE CASTelº / Rodrigo FOI SOCURIDA POR / Pedrº JACQUES DE MAG” /G’alhães DESTA PROVINCIA / Que O VENCEU EM / BATALHA NESTE / LUGAR,COM DES/IGUAL PODER A / 7 DE JULHO / DE 1664. E no reverso: E PARA FAZER / IMORTAL E / STA VICT/ORIA JOA/N DA FON/Seca TAVares M/ANDOV A/QVI LEVA/NTAR ES/TE PADRA/M NO SO/BREDITO / ANNO DE / 1664…”.
Cruz de Pedro Jaques de Magalhães, Monumento Nacional, Inscrição alusiva ao combate, epigrafada no Monumento Nacional.
A realidade portuguesa:
Passados que estavam vinte e quatro longos anos desde aquele glorioso dia de 1 de dezembro de 1640, o povo português continuava a dar prova de força e perseverança, pois oferecia resistência à mais poderosa casa real da época, tendo-a vencido nas Batalhas de Montijo (26 de maio de 1644), Elvas (14 de janeiro de 1659) e na Batalha do Ameixial (8 de junho de 1663), conseguindo assim, manter a chama da Restauração acesa. Todos estes campos de batalha situavam-se na província do Alentejo, palco fulcral desta longa guerra, pelo menos até ao ano de 1663.
Nesse ano e no seguinte, numa iniciativa conjunta dos exércitos espanhóis, foram realizadas tentativas de desestabilização da fronteira das Beiras.
No ano de 1663, relatava o “MERCVRIO PORTUGUES” do mês de julho“… pela província da Beira tinha determinado o Duque de Osunna, que governava as Armas daquela fronteira por Castela, fazer diversão a favor de D. João de Áustria, mas, ou a pouca diligência, ou a falta de gente, lhe não permitiu ajuntar poder considerável, se não depois de Dom Joaõ de Áustria estar vencido e em Alentejo haverem cessado as armas…”.
Alguns meses depois, em Dezembro, o mesmo” MERCVRIO PORTUGUES”, volta a noticiar atividades do Duque de Ossuna “… Chegaram ao exército inimigo mil & setecentos homens em dois terços que de Flandres conduzirão o Marquez de Respur, e o Conde Philipe (…) ordenou el rey de Castela que ficassem ali, não se achando ainda com forças para fazer oposição aos nossos por aquela parte, mandou o Duque de Ossuna Governador de Armas de Castela a Velha, que entrasse pela Província da Beira, para chamar em socorro dela gente do minho…”. O jornal, fazia assim eco do empenho da coroa e exércitos espanhóis em submeter a vontade e a força das armas portuguesas, para assim recuperar Portugal.
O contexto de Ribacôa:
No ano de 1664, o Governador de armas, Gen. Pedro Jaques de Magalhães, redobrou a atenção sobre a linha de Fronteira e mandou reforçar o contingente militar, pelas notícias que chegavam sobre a grande concentração de forças militares na praça de armas de Ciudad Rodrigo.
Efetivamente, o Duque de Ossuna, D. Gaspár Téllez-Girón Y Sandoval, delineou durante o Inverno planos de ataque, com o objetivo de montar uma grande ofensiva, que fosse decisiva contra as forças da Beira.
Tendo recebido notícias dos insucessos das forças espanholas no Alentejo, mas sobretudo, desejoso de vingar o saque da vila espanhola de Sobradillo pelas forças portuguesas.
O MERCURYO EXTRAORDINÁRIO de Julho de 1664 com o”… relato da Milagrosa vitória de Castelo Rodrigo contava que o Duque de Ossuna…“…saiu de Ciudad Rodrigo em 3 deste Julho com 4.000 infantes, 600 para 700 cavalos, nove peças de artilharia grossa e muita carruagem(…) aos 5 se pôs sobre Castelo Rodrigo, praça sem mais defesa que o bastante sítio (…) uma muralha antiga, mas governada pelo Mestre de Campo António Ferreira Ferrão, cujo valor, & o de poucos companheiros supria todas as faltas…”.
O Duque de Ossuna porfiou nos seus intentos e de surpresa, caiu sobre Castelo Rodrigo que era a chave da defesa da Beira durie. Ciente da importância de Castelo Rodrigo, que no caso de ser tomado pelos espanhóis, passava a ser um baluarte de onde a província seria posta a ferro e fogo e, percebendo o alcance do plano de Ossuna, o Governador de armas de Ribacôa, Pero Jacques de Magalhães, saí em socorro daquela praça.
Segundo os relatos da época, de que o MERCVRIO Português fez eco, Castelo Rodrigo encontrava-se guarnecido, na ocasião, por uma pequena guarnição de apenas 150 homens, que “… Governava o Mestre de Campo António Ferreyra Ferraõ, soldado de conhecido valor…”.
Alertado pelo governador de Castelo Rodrigo, Pedro Jacques de Magalhães reuniu com urgência as forças portuguesas disponíveis e acudiu em defesa de Castelo Rodrigo, estabelecendo o seu acampamento na serra da Marofa. Dali, podia observar as posições das forças espanholas e observar o labor que punham nas constantes arremetidas contra Castelo Rodrigo. A guarnição, sitiada desde o dia 5 de julho, resistia com grandes dificuldades.
Na alvorada do glorioso dia 7 de julho, decidiu mandar avançar a cavalaria, sob o comando de António Maldonado tendo esta surpreendido as forças espanholas, ocupadas no assalto à fortaleza. A Infantaria portuguesa de forma célere, seguiu no encalço da Cavalaria, tendo a ação conjunta posto as forças invasoras em fuga.
A batalha continuou e teve o desenlace final no lugar da Salgadela, (daí ter nascido o nome alternativo por que também é referida –batalha da Salgadela) e onde naquele mesmo ano, foi colocado um padrão comemorativo, hoje classificado como monumento nacional.
Relatava o MERCVRIO PORTUGUEZ extraordinário, publicado no próprio mês da Batalha “… o inimigo abandonava o campo de batalha deixando muitos mortos, feridos e prisioneiros, igualmente abandonando muito material de guerra, “com total perda do Exto Artilharia e bagagens sem q da parte dos portuguezes ouvesse mais q um soldado morto…”. Embora não possamos deixar de considerar o Mercurio Portuguez, um jornal informativo, os vários trabalhos de investigação já provaram, que o seu cariz iminentemente patriótico, fazia com que muitas vezes exaltasse em demasia as armas e os feitos dos portugueses.
O grandioso feito militar alcançado pelas forças portuguesas em Castelo Rodrigo, gorou a ofensiva empreendida pelas forças espanholas na Beira e desse modo, o ano de 1664, ficou profundamente marcado pelo sucesso das armas portuguesas O enorme patriotismo e valor militar revelados por Pedro jaques de Magalhães e pelos homens do seu exército ficam bem patenteados, no tributo que D. Pedro, Príncipe Regente de seu irmão (o Rei Afonso VI) lhe presta, ao atribuir-lhe o título nobiliárquico de Visconde de Fonte Arcada, por carta de 6 de fevereiro de 1671.